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Campanha Abril Marrom marca mês de prevenção e combate às diversas espécies de cegueira
22/04/2021

Artigo da médica veterinária Dra. Paula Stieven Hünning destaca a campanha do Abril Marrom que marca o mês de prevenção e combate aos vários tipos de cegueira.

A doutora Paula é médica veterinária graduada pela UFRGS, tem residência em Clínica Médica de Pequenos Animais do Hospital de Clínicas Veterinárias do Rio grande do Sul (UFRGS). É Mestre e Doutora em Ciências Veterinárias da UFRGS com ênfase em Oftalmologia Veterinária e Diplomada pelo Colégio Brasileiro de Oftalmologia Veterinária (CBOV). Confira o artigo, abaixo na íntegra, e veja as artes da campanha aqui

Abril Marrom, mês da prevenção e combate às diversas espécies de cegueira

 

Desde 2016, o Brasil celebra o Abril Marrom nas áreas da saúde humana. Na Medicina Veterinária, também necessitamos de campanhas que alertem sobre prevenção e diagnóstico precoce das diferentes formas de cegueira em animais. O mês de abril foi escolhido para, anualmente, reforçar a importância da conscientização da população sobre a prevenção da cegueira por meio do diagnóstico precoce e da reabilitação.

 

Dados internacionais afirmam que aproximadamente 60% das doenças oculares, que causam cegueira, são tratáveis e que, se a pessoa tivesse chance de um diagnóstico e um tratamento precoce, ela poderia não estar cega. Desse modo, na Medicina a Veterinária, também podemos dar uma chance de visão para nossos pets.

 

A população precisa estar alerta e ter interesse em cuidar da saúde ocular de seus pets. É necessário procurar o oftalmologista veterinário para realizar exames e detectar possíveis doenças. No Brasil, já existe o Colégio Brasileiro de Oftalmologia Veterinária (CBOV) e médicos veterinários especializados na área da oftalmologia.

 

Os cuidados com a visão não devem ser somente para o animal idoso, mas também para os pacientes com doenças endócrinas, como a Diabetes e a Síndrome de Cushing, para hipertensos de origem renal, para filhotes e adultos.

 

Dentre as doenças que podem causar cegueira em animais podemos citar as mais comuns:

 

Ceratite Pigmentar
 

Caracteriza-se por deposição de pigmento sobre a córnea superficial e acomete principalmente os cães braquicefálicos (focinho curto). Dentre as principais causas estão os processos irritativos crônicos e a ceratoconjuntivite seca (olho seco). Acomete com frequência cães da raça Pug, Shih-tzu, Pequinês e Buldogue. Os sinais incluem somente uma mancha negra na córnea, iniciando progressão no canto do olho (córnea), ou associada a graus variados de olho vermelho, coceira e secreção ocular. Ao ser diagnosticada e tratada precocemente, pode evitar a perda visual.
 

Catarata


É a principal causa de cegueira tratável em cães. A apresentação juvenil é a mais comum, ou seja, pacientes jovens são diagnosticados com catarata com maior frequência que os idosos. Algumas raças de cães, quando filhotes, podem apresentar catarata congênita. A catarata é caracterizada por uma opacidade (perda da transparência) do cristalino, a lente do olho localizada atrás da íris.

 

As principais causas são: predisposição genética/hereditária, traumática e metabólica relacionada a diabetes mellitus. Os sinais incluem perda de transparência da pupila ou presença de opacidades brancas. Nestes quadros mais adiantados, observa-se deficiência visual como esbarrar em objetos e tropeços. Nos casos iniciais, somente o oftalmologista poderá fazer o diagnóstico.

 

O tratamento de eleição, tanto na medicina humana quanto na veterinária, é a remoção cirúrgica com possibilidade de implante de lente intraocular específica para a espécie tratada.


Glaucoma

Uma das principais causas de cegueira irreversível, a doença é um desafio para o oftalmologista veterinário tratar e preservar a visão, principalmente na espécie canina. Os felinos podem apresentar uma evolução mais aguda e secundária aos traumas e às inflamações intraoculares. Normalmente, o paciente chega ao consultório com a doença em estágio avançado e perda visual. O fator de risco para a cegueira é a pressão intraocular aumentada, que lesiona o nervo óptico, processo também associado à degeneração das células ganglionares da retina.

 

Alguns sinais que podem ser percebidos são: olhos vermelhos, sinais de desconforto ocular ou dor aguda, pupilas de tamanhos diferentes (dilatadas), olho azulado (córnea), e aumento do tamanho ocular nos casos crônicos. Inicialmente, se acometer somente um olho, a percepção da baixa visão ou cegueira é bastante difícil, visto que o paciente pode manter seus hábitos normais com a visão do olho oposto.

 

Retinopatia Hipertensiva em Felinos
 

As principais causas de hipertensão arterial sistêmica em felinos são a doença renal crônica e o hipertireoidismo. A pressão arterial aumentada pode levar ao descolamento da retina, cursando, muitas vezes, com perda visual aguda. O diagnóstico é realizado com a avaliação do fundo de olho. O tratamento precoce no controle da pressão arterial é essencial para a reabilitação visual, tendo prognóstico reservado. A medicina preventiva no controle da pressão arterial sistêmica de pacientes hipertensos tem grande papel para evitar o desenvolvimento ou reduzir o impacto dela sobre órgãos alvos, que incluem os olhos.

 

Atrofia Progressiva de Retina em Cães


Existem diferentes formas de atrofia de retina, descritas e sequenciadas geneticamente em mais de 100 raças de cães, podendo apresentar sinais clínicos precoces ou mais tardios. No início, a doença é assintomática e ocorre de forma bilateral, simétrica e indolor. Das formas descritas, comumente, observa-se a perda gradual da visão noturna e progressivamente da visão diurna, levando a cegueira irreversível. Variações dos sinais clínicos podem ocorrer diante da forma desenvolvida. Inicialmente, pode-se perceber insegurança ao caminhar em locais de baixa luminosidade, tropeços e dificuldade em desviar de obstáculos que, ao longo do tempo, se estenderão para os ambientes claros, com aumento do reflexo (brilho) do fundo do olho à noite. Os sinais podem estar mais evidentes em locais desconhecidos do cão.

 

Atualmente, não há registros de cura. A administração oral de complexos antioxidantes pode ser recomendada, com resultados ainda controversos, para reduzir o avanço da doença, que se compara à retinose pigmentar em humanos. Frente a esta situação, o controle reprodutivo dos animais diagnosticados deve ser realizado, bem como a seleção de matrizes e reprodutores.



📌 Em resumo, ter informações sobre as doenças que podem levar à cegueira é o primeiro passo para a conscientização e a prevenção das diferentes espécies de cegueira. Outro ponto fundamental é lembrar que os animais, quando demonstrarem dificuldade visual, podem estar em estágios avançados, por isso a atenção deve ser redobrada nos cuidados com a visão dos pets. Recomendam-se visitas regulares ao médico veterinário oftalmologista, bem como o compromisso com o tratamento instituído para a doença diagnosticada.